Dor abdominal crônica
A dor abdominal crônica (DAC) ou recorrente é caracterizada por três ou mais episódios de dor abdominal que ocorrem ao longo de um período de pelo menos 3 meses. Pode se apresentar de forma continua ou pode ser intermitente, quando acontecem períodos cíclicos de dor e acalmia.
É uma queixa frequente em crianças e adolescentes e gera muita ansiedade e preocupação aos pacientes e seus familiares.Vários estudos mostram que a DAC incide em 10%-35% das crianças entre 4 e 16 anos. Inicia-se, habitualmente, a partir dos 4 anos de idade afetando igualmente ambos os sexos até os 9 anos e após esta idade torna-se mais frequente em meninas.
Várias patologias podem estar associadas a DAC, entretanto em apenas 5 a 15% dos casos a dor é causada por uma doença orgânica. Várias causas orgânicas estão relacionadas à dor abdominal, sendo que, em muitos casos, a fisiopatologia é relacionada a processos infecciosos, inflamatórios ou distensão/obstrução de vísceras ocas. Doenças parasitárias e constipação também devem ser consideradas.
Entretanto, a maioria das crianças e adolescentes apresentam sintomas “funcionais” definidos quando não se estabelece uma causa anatômica, infecciosa, inflamatória, neoplásica, metabólica ou bioquímica para a dor. Neste caso é denominada dor abdominal funcional. O termo “funcional” se refere ao fato de que, mesmo após vários exames, nenhuma explicação clara é encontrada para a dor. Não há nenhuma obstrução, irritação ou infecção para causar o desconforto. Mas a dor é bastante real. Por causa da dor, as crianças podem abandonar suas atividades habituais, e podem se queixar de náuseas, excesso de gases, diarréia, ou prisão de ventre. Felizmente, apesar da dor crônica, as crianças crescem normalmente e mantêm-se saudáveis de um modo geral.
A abordagem da DAC em crianças e adolescentes deve dirigir o profissional de saúde a discriminar se esse sintoma decorre de desordem gastrointestinal funcional ou se resulta de patologia orgânica. Para tanto são necessários anamnese e exame físico detalhados, no sentido de investigar a presença de sinais e sintomas que possam apontar para uma possível causa orgânica para a dor. Um histórico cuidadoso de como a dor começou, onde está localizada e como progrediu freqüentemente sugere o diagnóstico. Exames de sangue, urina e fezes serão feitos para eliminar a possibilidade de algumas doenças que podem causar dor recorrente. Um histórico de intolerância a certos alimentos, como derivados do leite ou sucos, podem ajudar a explicar cólicas e excesso de gases. Radiografias, tomografias e endoscopias são recomendadas apenas a crianças cujo histórico, ou cujos exames, levantam dúvidas sobre o diagnóstico.