Alimentação láctea no primeiro ano de vida

O leite humano é o melhor alimento que uma criança pode receber. O que o faz inigualável é o fato de que ele satisfaz os aspectos “Nutricionais-Vínculo-Estimulação-Imunidade”, necessidades inadiáveis do recém-nascido. Estas necessidades nenhum alimento substituto consegue satisfazer de forma tão completa quanto o leite materno. A amamentação é uma das ações de saúde preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) como estratégia para a diminuição da mortalidade infantil e da prevalência de desnutrição energético-protéica.

È recomendado aleitamento materno exclusivo para criança nos primeiros seis meses de vida e aleitamento materno complementado até os dois anos de idade ou mais.

O valor atribuído ao leite materno e às suas vantagens – nutricionais e afetivas – apresenta, na atualidade, flutuações também observadas ao longo da história, em diferentes sociedades. Os problemas relacionados à amamentação no contexto da alimentação infantil são tão antigos quanto à história da civilização humana. Hipócrates escrevendo sobre o objetivo da amamentação, declara que: “somente o leite da própria mãe é benéfico, (sendo) o de outras perigoso”.

No Brasil, nas últimas décadas, vem ocorrendo aumento na duração do aleitamento natural. Na década de 1970, 33% das crianças eram amamentadas até os seis meses de idade. Na década de 1980 houve aumento para 49%, e para 60% na década de 1990. No entanto, infelizmente, expressiva parcela dos lactentes ainda é vítima de desmame precoce, inclusive no primeiro semestre de vida. A maioria dos bebês com perda precoce do leite materno são iniciados em fórmula industrializada para lactentes e muitos ficam pouco tempo com a fórmula, e logo mudam para o leite de vaca diluído ou integral.

O leite de vaca, não é considerado alimento apropriado para crianças menores de um ano de idade, por apresentar as seguintes inadequações: altas taxas de proteínas, relação caseína-proteínas do soro inadequada, comprometendo a digestibilidade; baixos teores de ácido linoléico e altos de gordura saturada; altas taxas de sódio contribuindo para a elevação da carga renal de solutos; contém proteínas estranhas ao organismo que podem levar à sensibilização e à alergia alimentar; reduzida quantidade e biodisponibilidade de ferro; predispõe a micro-hemorragias, agravando a deficiência de ferro; alta concentração de cálcio e fósforo, o que leva à menor absorção de ferro e zinco; baixo conteúdo de vitaminas C, D e E; quantidade insuficiente de carboidratos, sendo necessário o acréscimo de outros açúcares (sacarose ou amido) elevando o trabalho de digestão, ainda não bem desenvolvido nessa idade.

Para os lactentes que por algum motivo não serão amamentados ou necessitem ser desmamados, as recomendações atuais são de uso de fórmulas com composição que assegure a melhor nutrição possível para garantir crescimento, desenvolvimento e saúde ótimos no futuro, conforme recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria; Academia Americana de Pediatria e Sociedade Européia de Gastroenterologia e Nutrição Pediátrica. Deverá ser utilizada fórmula de partida nos primeiros seis meses e a partir desta idade, recomenda-se fórmula infantil de seguimento.

Ao contrário do leite de vaca, as fórmulas de partida e seguimento se caracterizam por terem menor osmolaridade; redução da quantidade de gordura animal saturada e acréscimo de óleos vegetais (gorduras poliinsaturadas de melhor qualidade), como também o acréscimo de ácidos graxo essenciais (linoléico e alfa-linolênico); contêm lactose exclusiva ou associação de lactose com polímeros de glicose (malto-dextrina), não necessitando, portanto, de adição de açúcares ou farinha; quantidade adequada de proteína com desnaturação protéica (quebra da caseína, em cadeias menores, formando proteínas solúveis e favorecendo a digestão e absorção), além de melhor relação proteína do soro/caseína; modificação nos teores de minerais tentando aproximar-se do leite materno, com relação adequada entre cálcio e fósforo, favorecendo a mineralização óssea;e serem acrescidas de vitaminas e oligoelementos. De acordo com as recomendações do CODEX Alimentarius FAO/OMS as fórmulas infantis satisfazem as necessidades nutricionais dos lactentes. Por serem nutricionalmente equilibradas e balanceadas, colaboram para proporcionar crescimento e desenvolvimento adequados.

Em suma, o leite de vaca “in natura” na forma líquida ou desidratada (em pó) não é alimento apropriado para crianças menores de um ano. As recomendações brasileiras, americanas e européias são unânimes em desaconselhar o seu uso.

Existem bases científicas que comprovam que quando o leite materno não puder ser utilizado, a fórmula infantil deve ser a primeira escolha. È inadmissível que ainda se indique o uso do leite de vaca no primeiro ano de vida. O menor custo não justifica o uso indiscriminado.  Observa-se que mesmo independente do status socioeconômico, é muito grande a proporção de lactentes que fazem uso do leite de vaca. Cabe ao Pediatra o estímulo ao aleitamento materno e quando não houver disponibilidade, a indicação de uma fórmula láctea adequada. O profissional deve conhecer as fórmulas infantis disponíveis e suas peculiaridades para saber orientar a melhor opção para cada caso.