A construção do paladar das crianças
Que pai ou mãe nunca sonhou com uma refeição tranquila, com os filhos sentados a mesa saboreando alimentos nutritivos sem a preocupação se estão comendo a quantidade e qualidade adequadas?
Se entendermos como é construído o paladar da criança, explorarmos positivamente suas preferências inatas e trabalharmos para que sabores desconhecidos sejam incorporados na alimentação diária, é possível tornar real esse anseio.
No útero e no leite materno se iniciam as preferências alimentares
A capacidade de reconhecer sabores começa ainda no útero. Diversas moléculas derivadas da dieta da mãe presentes no líquido amniótico, são o início do aprendizado sensorial no preparo do bebê para as experiências de sabores após o nascimento.
Após o nascimento, a alimentação materna durante a amamentação também influencia o paladar das crianças, pois também no leite humano há partículas vindas da alimentação da mãe, que modificam o sabor do leite. Já é conhecido o fato de que se uma mãe come com frequência determinado alimento durante a lactação, no momento da introdução alimentar o bebê consumirá esse alimento sem recusa.
Exposição repetida: estratégia que auxilia a formar o paladar infantil
As crianças nascem com preferências ao sabor doce e ao umami* e aversão ao amargo e ao azedo. Estas preferências podem refletir um impulso biológico para os alimentos que contenham maior densidade calórica e com alto teor de proteínas, essenciais para o adequado crescimento e desenvolvimento dos bebês e uma aversão aos alimentos venenosos ou tóxicos, conferindo certa proteção à criança.
Contudo, apesar das preferências inatas, o paladar é modificável e influenciado pelo ambiente em que as crianças estão inseridas.
A exposição repetida a novos alimentos é uma das estratégias que auxilia a formar o paladar infantil. Os estudiosos relatam que apresentar entre 10 e 15 vezes o mesmo alimento em diferentes formas de preparo é fundamental para que a criança se acostume ao novo sabor e defina sua aceitação ou recusa.
Outro fator que ajuda a definir uma melhor aceitação é o ambiente em que o alimento está inserido. Refeições cercadas de tensão e conflitos, com crianças forçadas a comer certos alimentos pode diminuir a preferência por esses alimentos mais tarde. Por outro lado, experimenta-los em ambiente tranquilo e alegre facilita sua aceitação.
*O umami é responsável pelo gosto denso, profundo e duradouro que produz na língua uma sensação aveludada. É o quinto sabor, que complementa os demais (doce, salgado, amargo e azedo). Muito encontrado no leite materno, em carnes e alguns legumes.
Referências bibliográficas:
Ventura AK, Worobey J. Early influences on the development of food preferences. Curr Biol. 2013; 23:401-8.